domingo, 26 de abril de 2015

Os avós (parte 1)


É do avô Couto que me lembro melhor, era muito brincalhão e muito bem disposto.

Claro que me lembro dele já com uma certa idade, não sei quantos anos tinha mas brincava muito com os netos.

Quando lá estávamos todos (os mais novos) e quando éramos chamados para lavar as mãos e ir para a mesa, ele à frente e os netos atrás a cantar “olha a bicha tumtumtum que amanhã é dia um….” E lá íamos em fila indiana a passar pelo quarto banho, lavar as mãos e subir aquelas escadas em caracol…. Mas em vez de virarmos para a sala, passávamos primeiro pela cozinha (sempre a cantar) em marcha, a roubar batatas fritas ou o que fosse para o almoço, a Ana Maria refilava “O Sr. Aristides é pior que os meninos!”, quem ficasse ao pé dele na mesa, estava feito, ele era cócegas, palmadas, estalava os nosso dedos, uma série de brincadeiras sem fim…

Naquele tempo não havia televisão, mas no Natal o avô alugava uma (não me lembro do processo) para distracção dos netos, havia sempre desenhos animados nessa altura.

Eu, o Vasco e os primos fartávamos de brincar no escritório, cheio de armários antigos que fechavam como persianas e peças em vidro para brincarmos aos laboratórios… não me lembro que mais tinha lá.

Mas o que eu gostava mais, mais, mais, era daquela casa…ou eu era muito pequenina ou achava aquilo tudo muito grande, tectos altos e trabalhados… deixa ver se me lembro: depois da loja, no primeiro andar era o escritório e armazém(?) havia uma porta a separar os lanços em caracol para a casa, ao subir para um lado era o quarto do Tio Vasco, um quarto enorme com sala e um quartinho interior onde dormi muitas vezes, para o outro lado, era o quarto dos avós, mais um lanço e havia um relógio enorme de pé sempre a fazer tic tac tic tac, a seguir para um lado era a cozinha sempre em grande azafama porque a casa dos avós estava sempre cheia de visitas e convidados, para o outro lado era o quarto da empregada, a Ana Maria, havia outro quarto, mas aberto que fazia passagem para a sala, acho que era assim com corredores compridos….

A avó tinha uma doença de coração, ao domingo ia sempre à missa nos Congregados e à chegada a casa, os meus irmãos e às vezes a minha mãe faziam cadeirinha com os braços para a trazer por aqueles lanços de escada em caracol (sim, adoro escadas em caracol!)

A avó fazia sapatinhos de lã para pôr nos sapatos, não sei se para agasalho ou se para não estragar o chão, sei é que adorávamos aquilo, deslizávamos por aqueles corredores qual patinador artístico, fazíamos bailados e piruetas, às vezes o avô entrava na brincadeira e lá havia alguns tombos e a avó a ralhar “meninos, cuidado com o vosso avô!”

No São João, tínhamos que dormir de tarde para à noite estarmos desperto para a brincadeira com o alho-porro, ali mesmo à porta de casa na Rua Sá da Bandeira.

Eu e o Vasco éramos muito mimados pelos amigos do avô que nos davam presentes, e o Tio Armando levava-nos ao café, que agora não me lembro do nome, em frente ao Rivoli e dava-nos rebuçados e guloseimas.

Foi na casa dos avós que eu e o Vasco ficamos a saber que a nossa cadela Diana, tinha morrido, ao fim destes anos todos já posso dizer que escutamos atrás da porta a mamã a falar com a avó que não sabia como nos dizer…. Sobre esta situação já não me lembro de mais nada, será que fomos apanhados a escutar!?...

Cada vez que vou escrevendo, vou-me lembrando de mais situações e não consigo parar de escrever e a minha cabeça não consegue parar de tantas memórias que vão surgindo…mas por hoje chega!


Beijos!


3 comentários:

  1. Adorei ler as tuas recordações dos avós, era mesmo assim o avô Couto, muito brincalhão e disponível! Lembro-me bem dessa "bicha tum tum tum..." :-) e de roubar as batatas fritas na cozinha... Da vovó lembro-me muito dela sentada a rezar o terço e, ao mesmo tempo, a dar as suas ordens à Ana Maria!
    O que eu sei é que os nossos avós tinham um amor um pelo outro que fez com que um não pudesse sobreviver ao outro. O avô foi ter com o seu amor três meses depois!!! Lindo esse exemplo de vida! estejam onde estiverem mando-lhes muitos beijinhos de saudades.

    E para ti beijinhos grandes e obrigada por essas recordações.

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  2. Sabes, Bé, como se chamava o café que havia no grande edifício em frente do Rivoli? Era o Café Rialto, que ficava na esquina da Praça D. João I com a Rua de Sá da Bandeira.

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