segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A menina do mar

 

                                 foto: @Maria Oswalda Rego

Ainda de cabelos molhados da ultima maré, espreguiço o corpo nu sem pudor nem vergonha, aproveito os últimos raios deste sol já um pouco fraquinho! 

Não importa, não quero saber o que digam, pois só "nós" a "Pedra Moura" os "Namorados" e talvez alguns  outros que vamos encontrando por aí me possam ver... 

Às vezes, gaivotas e corvos marinhos pousam na minha barriga, outras vezes pousam pessoas que pesam e não são gentis, outros namoram em cima de mim, faço de conta que não ouço as promessas de amor eterno! e até coro e espero que a maré suba para me livrar destes segredos... 

Os pássaros, esses fazem cocegas e picam no seu debicar constante de procura, mas a natureza com a natureza só faz bem à pele, no meu caso, pedra! 

Pedra antiga, milenar que toda junta ou mesmo só faz-nos sonhar e inventar histórias...

Valdinha, continua a procurar!

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Eles andam aí


 "Eles andam aí"!

Ainda me lembro o medo que sentia ao passar numa rua da baixa ao sábado. Ao domingo e à noite, então, era impensável ... claro que sempre fui "medricas" e confesso, ao fim destes anos todos, que tinha pavor de ficar em casa sozinha...se tivesse que ir ao quarto, subia aquelas escadas num jacto e com as luzes todas acesas.
À noite a casa virava um fartote de imaginação em que as portas e as janelas se abriam para os malfeitores que subiam as escadas até ao meu quarto, em que todos os ruídos eram um sobressalto e eu só pensava onde me havia de esconder dos ladrões, debaixo da cama era a solução mas não podia respirar e tinha que me fazer de morta para passar despercebida ... se "eles" não me encontrassem, sempre podia saltar (apesar de a altura ser considerável) da varanda para o jardim e gritar "socoooorro"!
Claro que nunca fiquei sozinha em casa, sempre tive a proteção dos manos, principalmente a mana (Maria Oswalda Rego ) que enquanto lá esteve, nunca me deixou...até que o sono era mais pesado e acabava por adormecer!
Oh pá, desviei-me do que queria falar!
O "eles andam aí" são todos, menos os portuenses....não se ouve falar português no meio da multidão a atravessar uma ponte, sôfrega de paisagem romântica, da cascata erguida a partir do rio, das ruínas com história, do sol, ai o sol, do cinzento da cidade alegre e divertida, do pregão da praça e do cantor de rua... não cabe mais ninguém e ainda bem que assim é! Se cansa? Cansa... mas não há nada mais aconchegante do que este abraço universal que nos faz esboçar um sorriso ao estar sentado num sofá da avenida a receber "eles" para um chá ...
Venham....mas não estraguem!