segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Rei Artur



O Rei Rui Artur


Havia tanto para te contar, não é que tu já não saibas….por onde andas sabes tudo de todos (penso eu!)

Mas não é a mesma coisa….

Mas vou fazer de conta, já peguei no telefone e digitei um número que não sei qual é! Só para falar contigo:

Então Rui estás bem? Parabéns, tens estado com o papá? É com ele que vais passar o teu aniversário e ele te vai contar a história dos “…bandido sem lei” a Valdinha é que sabe o nome da história.

Queres café com leite com açucar…. Ou açucar com café com leite! Ehehehe…. guloso!

Ainda ontem eu e a Valdinha estávamos a falar com a mamã que tu eras o “Rei Artur”, acho que era o avô que te chamava assim, claro! Foste o primeiro… mas serás rei para sempre.

Por aqui têm acontecido coisas incríveis, de certeza que para ti umas iam servir de estudo e aplicação cientifica, outras para rir e de certeza que algumas para chorar:

O Windows já vai no 10 e em termos informáticos de certeza que para ti seria um oásis, eu não percebo nada disso mas o teu irmão Vasco sabe da coisa!

Descobriram um planeta idêntico ao nosso que anda em sentido contrário e o espaço está cada vez mais a ser explorado…. Sabes, é que já não cabemos todos por aqui!!! Eheheh!!!!

O planeta está cada vez mais sujo, pobre e destruído.

As guerras e o terrorismo estão por todo lado.

O Marcelo é presidente e imagina só que o Trump é candidato a presidente nos Estados Unidos, estás-te a rir? É verdade… a estupidez está cada vez mais a entranhar-se e a tomar conta de todos!!!!

Mas a melhor, olha só, fomos campeões europeus em futebol…. loucura! Foi o máximo!

Tens mais um neto e os sobrinhos netos não param de nascer….acho que ainda não pára por aqui, até porque a Inês ainda não tem filhos, ela não quer ter mas eu e o Fausto gostávamos de ter a experiência do que é ser avós.

Quanto a mim ao Jorge à Valdinha e ao Vasco, os teus manos,  a coisa vai rolando… Uma dor aqui! Uma dor ali!.... como diz a outra a dor é sempre a mesma, vai é mudando de sitio….. uns sustos de vez em quando… enfim! É que isto da idade tem que se lhe diga… não é nada fácil envelhecer…. o corpo!, porque na minha cabeça, por mim estou sempre, vá lá nos 20 anos, mais coisa menos coisa e não faço por menos porque gosto muito de rir e de me divertir….. e ninguém me dá a idade que tenho! Pronto!

A mamã nos seus deliciosos 92 anos, continua forte, apesar de “…estou a ouvir tão mal!” ou “…estou a ver tão mal!” mas sabes, continua bonita e de pele macia.

Tudo isto tu sabes, porque quero acreditar que onde estiveres, estás a olhar pelos teus filhos e por nós que sempre te amamos tanto e temos a eterna saudade de não te poder tocar, abraçar e beijar…. Podes ter a certeza (oh, tu sabes!)  que não é só neste dia, a que eu chamo “de chegada e de partida” que me lembro de ti , são tantas tantas vezes e mais um ano que passou e eu continuo a querer fazer-te uma homenagem de vida….de muita vida bem vivida, de muita alegria e de muitas gargalhadas!

Tenho tantas saudades tuas! E não que chorar

Beijos da tua irmã caçula




sábado, 13 de agosto de 2016

O legado


Já não há vinhas!

















Já não há mel!


















Já não há azeite!









Mas há "nós" 



Para contarmos a história desta casa de família!
















E há este magnifico ar, esta paisagem, esta paz! E a alegria de saber que podemos sempre voltar ao lugar onde os nossos avós passavam férias...












 Beijos!



segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Uma noite no hospital…. Agora ia bem uma cervejinha!


Teve de ser!

Passar a noite no hospital com a minha mãe, mentalizada de que não ia dormir, porque ela não consegue dormir neste ambiente, pois ficou internada nas urgências para avaliação e observação de 24horas…fui munida de distracções não fazendo ideia que a própria distracção estava já lá dentro.

Estar numa sala ao lado da triagem não é fácil, havia ruídos estranhos que me gelavam a alma, me agoniavam, parecia um som de alguém possuído de sofrimento, um sofrimento que não tinha fim, mais tarde descobri que vinha de uma senhora, já idosa, que acalmou talvez com algum medicamento, ainda bem para ela e para mim que estava aterrorizada, só de pensar que alguém podia morrer mesmo ali ao meu lado!

Os minutos iam passando e pelo corredor passavam presos vigiados por guardas prisionais, idosos, idosos e mais idosos…. Eu só pensava, esta noite não vai ter fim… mas de vez em quando lá vinha uma distracção. Uma médica em conflito com enfermeiras que me pediu desculpa e “… não ligue ao que estou a dizer, mas fico mesmo revoltada e zangada quando me levam os doentes sem eu terminar a observação!!!!...”  what!?... Então!?

As enfermeiras as auxiliares as empregadas de limpeza conversavam e brincavam na postura normal de um dia de trabalho que para mim como já era de noite, supostamente seria para dormir, mas enfim… esta noite definitivamente não era para isso!

A primeira vez que fui com a minha mãe à casa de banho a mesma médica avisou-me que devia levar a minha carteira, porque ali uns tantos são doente, outros tantos roubam! “… Imagine que um dia destes encontrei um doente a tirar o fio de ouro de outro doente, e telemóveis!? É um ver se te avias, desaparecem todos!...” mais uma vez lhe sorri com cara de what!? Mas o que é isto!

De vez em quando lá espreitava pelas cortinas que alguém não fechava, a imagem de macas com entubados não eram nada agradável!

 Numa dessas espreitadelas apercebi-me da história que me marcou, me abalou e me entristeceu, um jovem em apatia total que tomou uma caixa, ou mais, de comprimidos, mais tarde, depois da lavagem ao estômago passou por mim numa maca, era bem parecido com um olhar profundo ou fundo ou sem olhar! O que lhe iria na alma, na cabeça, no corpo para ter vontade de desistir!? Estremeci à passagem, queria poder ter dito “força, coragem para viver, tudo se resolve”

Os minutos lá iam passando, nem ousava pensar em horas! Há seis meses atrás aconteceu o mesmo, a minha irmã é que lá passou a noite e de certeza que as sensações foram as mesmas… mamã por favor não caias outra vez!

Com o passar dos minutos, já pela madrugada o sono estava a tomar conta de mim.

Fez-se silêncio, menos dois senhores que apesar das chamadas de atenção teimavam em conversar e até parecia estarem divertidos na circunstância, bom, não deviam ter nada de grave, acho eu!?

Mas o sono que eu tinha fez-me saltar para o imaginário da ficção em que os presos conseguiam as armas dos guardas e desatavam aos tiros pelo hospital…. Vou mas é tomar um café e acordar do pesadelo!

À porta do hospital o cenário não é melhor, ambulâncias, acidentados, enfim… lá tomei o café e voltei para a minha cadeirinha, que chiava, ao lado da minha mãe que com os olhos sempre bem arregalados teimava em não dormir.

Perto das 07h da manhã, hora a que eu era obrigada a sair, fui procurar a enfermeira destinada à minha mãe para saber o que iam fazer depois de eu sair? A que horas o médico a vinha ver? Etc… Encontrei-a com um rapaz de cadeira de rodas com o braço engessado que dizia que queria ir embora e ela paciente dizia que só depois do médico o ver é que tinha, ou não, alta. Mas ele insistia e perguntava se não havia ali uma cervejinha!? Levantava o braço que não estava partido e a gesticular dizia “ … uma cervejinha, eu quero uma cervejinha…. Uma cervejinha é que agora ia bem…”

Lá vim embora ainda a tempo de ver o acordar da cidade.

Agora só quero é dormir!


 PS: a mãe depois do TAC saiu ainda de manhã e está bem, apesar do nariz e queixo esmurrados, dos olhos negros e joelhos doridos…. Mas caramba, com 92 anos e nada partido! 

Mulher de fibra!