domingo, 16 de fevereiro de 2020

61





Então é assim!

Será que algum dia eu quis voar?... Pelo menos já vivi em dois séculos!

Se não quis é porque fui uma adolescente parva!... se é que me lembro da adolescência com crises existenciais onde os problemas mundiais que carregava ás costas eram nitidamente particulares e teriam de ser resolvidos por mim… onde as paixões platónicas eram “amor” e claramente novelas com fim trágico… o choro era fácil! Era triste! Doía! A tristeza era tão profunda que ficava fechada no escuro do quarto com a música mais deprimente possível a pensar “amanhã morro, hoje não … amanhã”

O tempo passava e fui crescendo entre a parvoíce e a seriedade!

O mundo saltitava!

A seriedade e a serenidade passaram à frente da parvoíce…, mas sem nunca perder o sentido de humor, porque o “nonsense” é bom e faz rir!

E assim, a caminhar pela vida, umas vezes numa corrida frenética com o desejo de que o tempo corra, outras vezes devagar, muito devagar na esperança de que os momentos sejam saboreados e eternizados… uns foram bons outros maus…, mas fui passando outras vezes passeando por esta rua ou avenida que “para já” não tem o fim à vista!

Muitos momentos esqueci, uns porque quis outros não sei porquê e ainda outros ficaram na lembrança das recordações do que vivi, vi, presenciei, assisti, neguei, gritei, chorei, ri, praguejei, discuti, amei, beijei, abracei e … fui feliz, caramba!

“Para já” não queria ver o fim da rua, mesmo sabendo que o tempo que vou viver é mais curto do que o que já vivi… mas o que queria mesmo era andar pela rua numa bicicleta colorida a respirar o sol, a brisa, as nuvens, os montes, a maresia, as folhagens e voltar à infância onde a pressa de viver não nos deixou saborear os “momentos”… um perfeito cliché…

Mas hoje e como em tudo “o momento” é sempre o mais importante, cá estou eu a fazer 61 anos, a sentir o fervilhar dos 20 anos, dos 30… até dos 40 quem diria! Só que sem minissaia e sem sapatos com tacão de 10cm (que pena! Adorava!) Não consigo evitar que em consciência não tenha esta idade! É muito ano que só me a faz sentir nos ossos!

Engraçado que às vezes penso que tenho saudades e não propriamente de pessoas, mas de sítios…. Gostei tanto de andar no Garcia, a magia de sentar naquelas escadas, faltar às aulas para ficar sentada nas escadas!!!! Não eram umas escadas quaisquer, eram as escadas do liceu… os miúdos de agora não sabem o que isso é!!!! De certeza que não sabem!...

Só bocas e olhos nos olhos, para o bem e para o mal falávamos no presente, ou por escrito numa carta com “de… para…” colar um selo e que demorava quase uma semana a chegar, era uma adrenalina boa…

E esta coisa da idade também é uma adrenalina boa!

Boa!?