Então é assim!
Será que algum dia eu quis voar?... Pelo menos já vivi em
dois séculos!
Se não quis é porque fui uma adolescente parva!... se é que
me lembro da adolescência com crises existenciais onde os problemas mundiais
que carregava ás costas eram nitidamente particulares e teriam de ser
resolvidos por mim… onde as paixões platónicas eram “amor” e claramente novelas
com fim trágico… o choro era fácil! Era triste! Doía! A tristeza era tão
profunda que ficava fechada no escuro do quarto com a música mais deprimente
possível a pensar “amanhã morro, hoje não … amanhã”
O tempo passava e fui crescendo entre a parvoíce e a
seriedade!
O mundo saltitava!
A seriedade e a serenidade passaram à frente da parvoíce…,
mas sem nunca perder o sentido de humor, porque o “nonsense” é bom e faz rir!
E assim, a caminhar pela vida, umas vezes numa corrida frenética
com o desejo de que o tempo corra, outras vezes devagar, muito devagar na
esperança de que os momentos sejam saboreados e eternizados… uns foram bons
outros maus…, mas fui passando outras vezes passeando por esta rua ou avenida
que “para já” não tem o fim à vista!
Muitos momentos esqueci, uns porque quis outros não sei
porquê e ainda outros ficaram na lembrança das recordações do que vivi, vi,
presenciei, assisti, neguei, gritei, chorei, ri, praguejei, discuti, amei,
beijei, abracei e … fui feliz, caramba!
“Para já” não queria ver o fim da rua, mesmo sabendo que o
tempo que vou viver é mais curto do que o que já vivi… mas o que queria mesmo
era andar pela rua numa bicicleta colorida a respirar o sol, a brisa, as
nuvens, os montes, a maresia, as folhagens e voltar à infância onde a pressa de
viver não nos deixou saborear os “momentos”… um perfeito cliché…
Mas hoje e como em tudo “o momento” é sempre o mais
importante, cá estou eu a fazer 61 anos, a sentir o fervilhar dos 20 anos, dos
30… até dos 40 quem diria! Só que sem minissaia e sem sapatos com tacão de 10cm
(que pena! Adorava!) Não consigo evitar que em consciência não tenha esta
idade! É muito ano que só me a faz sentir nos ossos!
Engraçado que às vezes penso que tenho saudades e não
propriamente de pessoas, mas de sítios…. Gostei tanto de andar no Garcia, a
magia de sentar naquelas escadas, faltar às aulas para ficar sentada nas
escadas!!!! Não eram umas escadas quaisquer, eram as escadas do liceu… os
miúdos de agora não sabem o que isso é!!!! De certeza que não sabem!...
Só bocas e olhos nos olhos, para o bem e para o mal
falávamos no presente, ou por escrito numa carta com “de… para…” colar um selo
e que demorava quase uma semana a chegar, era uma adrenalina boa…
E esta coisa da idade também é uma adrenalina boa!
Boa!?