quarta-feira, 24 de junho de 2015

Este meu olhar sobre a cidade!


Era capaz de ficar horas a contemplar esta cidade!



Com o som do acordar da manhã e em silêncio ao anoitecer quando o céu fica com aquela penumbra e o sol se põe lá longe ao pé do mar.

Cada rua, cada esquina, cada casa com um segredo, uma história….

Tenho pena que muitos lugares tenham sido abandonados mas mesmo esses adoro!

Tenho pena que tenham cortado árvores, vendido a calçada portuguesa e descaracterizado alguns espaços com modernices inadequadas e noutros ainda, não tenham feito mesmo nada!


Sim, tenho pena disto tudo mas continuo a gostar de cada canto de cada azulejo de cada porta e janela de cada edifício imponente e majestoso, de cada árvore, de cada jardim….

O que esconde esta cidade?!

Onde está esta magia que me faz sorrir em cada passo dado, que me faz arregalar os olhos a tentar não esquecer o que vejo.

Passar na Brasileira e imaginar as tertúlias dos poetas e intelectuais, passar na Cadeia da Relação e sentir a paixão de Camilo Castelo Branco, passar na estação de São Bento e o não conseguir ver nada com o fumo dos comboios a vapor cheios de passageiros e recoveiros e pequenos animais à mistura…

Saudosista! Nostálgica! sim sou, talvez porque durante mais de 20 anos a zona mais típica da cidade, a Ribeira, fez parte da minha vida (profissional).


Quem trabalhou (ou viveu) na Ribeira nunca mais volta a ser a mesma pessoa, toda a cidade e a sua cultura é vista com outros olhos e é com muita pena que não conheço tudo desta cidade virada para o rio, para o mar, com uma luz de ouro ao entardecer!


Mas gosto de tudo o que actualmente me propõe e chega ao verão e sinto-me turista na minha cidade com identidade que preserva as suas tradições e valores.

Adoro este Porto.... de abrigo!




domingo, 21 de junho de 2015

Teresinha


                                                   “Estás tão pirosa!”



A do ra va,  eu adorava dizer isto à minha sobrinha quando ela era pequenina que na sua inocência de criança, fazia trejeitos de vaidade como se de um elogio se tratasse!

Rebelde, senhora do seu nariz, arisca e muito divertida cresceu em liberdade com os irmãos, com muitos amigos e o mar!






Era ela quem inventava as mais mirabolantes brincadeiras e até algumas asneiras com os irmãos, o Pedro e o Gonçalo, ambos alinhavam nos desafios propostos sem pestanejar e no fim lá vinha a cara de santinha “eu não fiz nada!”.





Mas por vezes era muito desconcertante:

 -Tu é que és o namorado da minha tia? não gosto de ti, gostava mais do outro!

Desde muito pequenina que o sentido de justiça foi apurado, sempre sincera e sem olhar a quem dizia o que pensava, reivindicava os seus direitos e não havia como ela para defesa do que (ela) achava certo, os irmãos tinham nela a maior defensora a mais brilhante e carinhosa estrela para os guiar… até hoje e para sempre!



  



Foi crescendo e eu continuava com os desafios:

-Ainda te vou ver de sapatos altos e carteira ao ombro!

-Estás doida!... isso é para velhas, eu vou andar sempre de sapatilhas!
  








Naquela idade e na sua ingenuidade de certeza que pensava que a vida ia ser sempre assim, sol, mar, sapatilhas, bicicleta….mas para ela até que foi e continua a ser, apesar de agora com saltos altos e da vida mais atribulada (já casada e com dois filhos e se pudesse com mais, muiiiitos mais!!!!) estes elementos continuam a fazer parte dela, da personalidade dela… irreverente, consciente e sempre criança!


Uma verdadeira “Laurinha” que fumava às escondidas dos amigos, não dos pais!


Mas um dia mulher….prática, resolvida, com uma alegria imensa pela vida, que cuidadosamente transmite aos filhos essa mesma alegria assim como os valores e os afectos que a guiam.





A Teté é uma sobrinha amorosa, eu tenho muito orgulho na mulher que se tornou, gosto muito dos abracinhos e do:

“ Ó mãe insiste!”

faz-me sentir uma tia especial….

PARABÉNS Teté, que sejas sempre iluminada pela vida fora!





Beijos do coração!








domingo, 14 de junho de 2015

Natureza


A chuva cai.
Lá fora está frio e triste.
Saí.
O Sol espreitou, preguiçoso por entre as nuvens e brilhou como se estivesse a dizer... bom dia!
Fiquei ali parada,
a sentir o rodopiar da natureza há minha volta.
As flores exalavam um cheiro a sorrisos.
Os pássaros voavam a cantar hinos de alegria.
As borboletas vestiram suas asas elegantes para namorar.
E esta musicalidade da natureza sem parar, abriu um sorriso,
desta gente,
deste povo,
que num prado verde,
corria,
sorria,
amava,
até ao mar!




O pensamento


O pensamento é como as nuvens.


Correm pelo céu sem parar.



Um dia quis parar de pensar.



E mesmo sem nuvens, o céu não me deixou.... parar!




sábado, 13 de junho de 2015

Feliz!

Pedras no charco?.... já era!

Este caminho, esta estrada, esta vida!

Da ingénua infância à doçura da velhice!

Percorremos o caminho que escolhemos, fomos fúteis, aventureiros destemidos, ambiciosos.

Quisemos agarrar o mundo com as mãos os braços as pernas o coração.

Apressados, sempre apressados sem olhar para trás.

O caminho foi sempre vertical, como se tivessemos direito a tudo.

E tínhamos… claro que tínhamos e ainda temos.

Dançamos à chuva, entramos no mar vestidos, fizemos de cada momento o momento, tivemos a certeza da certeza, a verdade da verdade, sem grandes filosofias ou com muita filosofia fazendo de “cada momento um compartimento hermeticamente fechado”, não sei quem escreveu esta frase mas valeu uma tarde de discussão entre amigos, há muitos, muitos anos, que terminou com uma única certeza, ser feliz!

Ser feliz!
O que é isto de ser feliz?

A felicidade de certeza que não é fechar os momentos é juntar todos os momentos, os alegres os tristes os assim assim e sorrir, ás vezes não temos vontade para isso, só nos apetece gritar, maltratar, fugir meter a cabeça na almofada, chorar….

Claro que há coisas que eu não gosto e não gostei que se passaram na minha vida mas não é por a vida não nos correr melhor que não somos felizes, somos sempre felizes, mesmo cansados, mesmo aqueles que andam sempre com a nuvem por cima da cabeça, que são pessimistas e se acham azarentos, são felizes.

Podem pensar que não mas ser feliz é uma condição que no fundo de nós, seja lá onde acharem que seja todos a temos. Se formos românticos está no coração, se formos práticos e realistas está no nosso cérebro, faz parte de nós, dos actos do dia a dia, não há como fugir!!!... ou há, mas isso é ir por caminhos que não me apetece agora…. estou feliz a escrever sobre ser feliz!

Fazer a vida de todas as cores, com pássaros e voar, com mar e mergulhar, com flores para cheirar com árvores para respirar, com crianças para sorrir e com gente, gente, muita gente...ou só!... não importa!

Como o meu pai dizia “façam ginástica mental” e descubram lá se não são felizes.

Eu fiz e sou.

Acho que naquela discussão de amigos devíamos ter chegado à conclusão que o importante é VIVER.

Beijos!




domingo, 7 de junho de 2015

Mary


Filha de uma professora primária e um comerciante do Porto.

Com dois irmão rapazes, Ivo o mais velho e Vasco o mais novo.

Mary com primas e amigas 

A Mary foi protegida por todos, principalmente pelo pai por quem sempre teve uma grande admiração e carinho, estudou na Escola Normal, na Ordem do Terço e mais tarde num colégio particular que pertencia a uma sobrinha do médico que a operou em Coimbra.



Um dia, o pai ofereceu-lhe um piano de cauda, a Tia Beatriz dava-lhe aulas de piano e de violino ao irmão Vasco, a primeira apresentação foi com a Sonata de Schubert nos anos do pai e no colégio também fez alguns recitais.

As brincadeiras eram as normais de uma criança, era muito Maria rapaz, talvez por brincar com os irmãos brincadeiras de rapazes, mais tarde foram as fugas do colégio, os passeios e o cinema com as amigas e o grupo que tinha entre Sá da Bandeira e Santa Catarina, durante uma semana ou mais (já não se recorda) a Mary não foi a escola e refugiava-se em casa da melhor amiga e cúmplice, a Virgínia, este incidente valeu-lhe um bom castigo, desde aí não faltou mais à escola.

Nas férias de verão a mãe alugava uma casa em Lavadores e como os outros miúdos com que brincava na praia não a percebiam a Mary dizia que era "fancesa" e continuava a brincadeira.

A Mary era muito bonita e tinha muitos pretendentes, contou-me com uma certa vaidade e até prazer que foi muito “namoradeira” e que teve alguns, uns demasiado possessivos e a queriam levar para fora, outros muito passageiros que ofereciam presentes de luxo, mas quando o namora acabava pediam tudo de volta. Contou-me também que nos passeios com o grupo pelo Porto, havia um rapaz que tinha um defeito numa perna e andava de muletas, com insistência queria sempre acompanha-la a casa mas com mentiras enrolava o rapaz de que tinha que ir aqui ou ali e o caminho para casa tornava-se maior com o rapaz sempre a segui-la, então subia a Rua dos Clérigos, descia pela Rua da Fábrica por escadas e escadinhas….assim o rapaz no “manca que manca” não a conseguia apanhar ficando para trás, aí podia seguir para casa em tranquilidade.

Mary numa festa
A  Mary tinha muitas amigas e ia a muitas festas, foi a “bailes” em palacetes, foi princesa, naquele tempo com aquelas roupas as mulheres eram umas verdadeiras princesas, eu vi em fotografias da época.

Chegou o dia do casamento da melhor amiga, a Gina, na festa conheceu um rapaz, por sinal bem parecido mas achou que era uma chato porque não a largou a festa toda, era o melhor amigo do noivo, o João.

Passado uns dias, a mãe da Mary estava à janela e comentou ”aquele rapaz está todos os dias encostado ao lampião, quem será, o que quererá?!” a Mary espreitou pela janela e suspirou um “ah!”, é o rapaz que conheceu no casamento da amiga…. e agora que fazer?

Não sei o que a Mary fez entretanto, mas sei que depois de muitas tentativas lá disse o sim, e começaram a namorar….. em plenos anos 40 os namoros ou eram acompanhados ou à janela, então o pai da Mary fez uma segunda porta depois da porta de entrada com uma janela de vidro que abria, para o namorado não apanhar frio ou chuva….e dar uns beijitos quem sabe! Quando o namorado levava uma garrafa de champanhe o irmão Ivo abria a segunda porta para a grande “tainada”…. Imagino!!! devia ser tudo em segredo já que os pais da Mary estavam quase 3 andares acima.

E lá namoraram não sei quanto tempo.

Ambos gostavam muito de dançar e iam a muitas festas, eram muito divertidos e gostavam de passear com os amigos João e Gina que estavam sempre presentes e ficaram assim enquanto a vida deixou.

Casamento dos pais
A Mary não me contou muito mais sobre este namoro, por não querer ou por já não se lembrar, não sei! Mas no dia em que fez 21 anos casou com o até então namorado, o Silvino.


As núpcias foram passadas na casa que os pais da Mary tinham no Douro, foram para lá de comboio, o que eu me ri quando me contou que aldeia em peso estava na estação à espera da “menina”, eles realmente estranharam tanta gente, mas mais tarde souberam que aquela gente toda estava à espera da “menina” vestida de noiva!

Foram felizes à maneira deles, com altos e baixos, alegres e tristes como todos os casais, até que os filhos começaram a chegar, tiveram cinco lindos filhos mas continuaram sempre a dançar e a passear até quando lhes foi possível, sempre em companhia dos amigos Gina e João.

Agora vou chorar!... já estou!...

Tia Gina

O João foi o primeiro a partir, muitos anos mais tarde a Gina, há uns anos o Silvino também partiu, a Mary agora tem 92 anos e contou-me (não consigo escrever porque as lágrimas caiem-me pelo rosto) algumas destas histórias, sei que de certeza tem  muitas, muitas mais… mas ficam para a memoria dela, afinal a nós não nos interessam, o que interessa é que a Mary é a nossa mãe, o Silvino o nosso pai e a Gina e o João os tios para sempre no meu coração.

    
                                              
Mary é o nome que sempre ouvi o nosso pai chamar à nossa mãe. 

Mamã... a Mary


Beijos!