Eternizar memórias antigas e actuais, pôr em palavras ou em imagens histórias. Dar vida à vida!
sexta-feira, 23 de abril de 2021
Letras
O céu corria em azul
O céu corria em azul
O vento soprava para norte
domingo, 4 de abril de 2021
Páscoa na aldeia
A Páscoa na aldeia
“Ouves o
sino?... que horas são? Ainda é tão cedo!
O compasso
já está perto!"
O sino
tocava tlim tlom… tlim tlom… a avisar que o Senhor estava a chegar à nossa casa!
"Meninos
venham… despachem-se….”
Já os vejo
à entrada onde o chão devidamente decorada com flores para anunciar que sim… o Senhor pode
entrar na nossa casa….
Nós, esperávamos ao cimo da escadaria pela chegada, eles vinham apressados e suados, e lá subiam de capas esvoaçantes vermelhas, um com o sino, outro com a água benta e ainda outro com a pasta para guardar as ofertas e por fim a cruz.
Ao entrar
na sala diziam umas palavras abençoadas, molhavam-nos com a água benta e o meu
pai a quem era entregue a cruz nos dava a beijar os pés do Senhor (era a parte
que eu menos gostava, peço desculpa, mas muitas vezes fiz de conta que beijei)
Na mesa da
sala estava um banquete de amêndoas, bolos, bolachas e vinhos para os receber…
uma almofada era colocada no aparador para o Senhor descansar enquanto os mensageiros
degustavam …
Ao descer
a escadaria as capas esvoaçantes ficavam para trás como que fossem voar (mais
tarde, já com a minha filha eu dizia que eram os “super-homens”) até à próxima
casa…
A seguir o
cabrito que já estava temperado de véspera pela nossa mãe era levado a casa do
Sr Adão para assar no forno do pão, assim como o arroz. Ainda hoje sinto aquele
sabor, esse sim, abençoado… era tão bom!!!!
Lembro-me
que eram três dias fantásticos, matávamos saudades dos nossos amigos das férias,
eram dias de liberdade com cheiro a pinheiro e rio Douro….
Quando estava calor até pareciam as férias de verão, era tanta a brincadeira!
No sábado
de Páscoa o nosso irmão Rui ia lá sempre passar o dia…acho que nunca falhou um,
desde pequena que me lembro da Páscoa na aldeia, talvez por isso seja uma festa
que na cidade não tem magia. Mais tarde, já casada e com filha, continuamos a
ir com os meus pais e o Vasco
A Inês não
gostava nada do fogo, fugia a sete pés e subia por mim acima sempre que o ouvia!
Três dias
de pura contemplação!
Três dias
de reflexão!
Três dias
de repor energias!
Três dias
de passeios… houve uma Páscoa que nevou e fomos com os pais à serra de
Montemuro, saímos para brincar na neve com a Inês, quando olho para trás estava
o meu pai a enterrar os pés na neve todo contente, como uma criança, porque nunca o tinha feito ou
sentido o prazer da neve, foi uma risota… parecíamos todos umas crianças a atirar bolas de neve,
o Fausto para delicia da Inês pôs uma bom bocado de neve no carro que ao descer
a montanha ia derretendo…
Tantas
histórias… tantos cheiros… tantas saudades…
Era assim
a Páscoa na “minha aldeia”