Teve de ser!
Passar a noite no hospital com a minha mãe, mentalizada
de que não ia dormir, porque ela não consegue dormir neste ambiente, pois ficou
internada nas urgências para avaliação e observação de 24horas…fui munida de distracções
não fazendo ideia que a própria distracção estava já lá dentro.
Estar numa sala ao lado da triagem não é fácil,
havia ruídos estranhos que me gelavam a alma, me agoniavam, parecia um som de
alguém possuído de sofrimento, um sofrimento que não tinha fim, mais tarde
descobri que vinha de uma senhora, já idosa, que acalmou talvez com algum
medicamento, ainda bem para ela e para mim que estava aterrorizada, só de
pensar que alguém podia morrer mesmo ali ao meu lado!
Os minutos iam passando e pelo corredor passavam
presos vigiados por guardas prisionais, idosos, idosos e mais idosos…. Eu só
pensava, esta noite não vai ter fim… mas de vez em quando lá vinha uma distracção.
Uma médica em conflito com enfermeiras que me pediu desculpa e “… não ligue ao
que estou a dizer, mas fico mesmo revoltada e zangada quando me levam os
doentes sem eu terminar a observação!!!!...”
what!?... Então!?
As enfermeiras as auxiliares as empregadas de
limpeza conversavam e brincavam na postura normal de um dia de trabalho que
para mim como já era de noite, supostamente seria para dormir, mas enfim… esta
noite definitivamente não era para isso!
A primeira vez que fui com a minha mãe à casa de
banho a mesma médica avisou-me que devia levar a minha carteira, porque ali uns
tantos são doente, outros tantos roubam! “… Imagine que um dia destes encontrei
um doente a tirar o fio de ouro de outro doente, e telemóveis!? É um ver se te
avias, desaparecem todos!...” mais uma vez lhe sorri com cara de what!? Mas o
que é isto!
De vez em quando lá espreitava pelas cortinas que
alguém não fechava, a imagem de macas com entubados não eram nada agradável!
Numa dessas
espreitadelas apercebi-me da história que me marcou, me abalou e me entristeceu,
um jovem em apatia total que tomou uma caixa, ou mais, de comprimidos, mais
tarde, depois da lavagem ao estômago passou por mim numa maca, era bem parecido
com um olhar profundo ou fundo ou sem olhar! O que lhe iria na alma, na cabeça, no corpo
para ter vontade de desistir!? Estremeci à passagem, queria poder ter dito “força,
coragem para viver, tudo se resolve”
Os minutos lá iam passando, nem ousava pensar em
horas! Há seis meses atrás aconteceu o mesmo, a minha irmã é que lá passou a
noite e de certeza que as sensações foram as mesmas… mamã por favor não caias
outra vez!
Com o passar dos minutos, já pela madrugada o sono estava
a tomar conta de mim.
Fez-se silêncio, menos dois senhores que apesar das chamadas de atenção teimavam em
conversar e até parecia estarem divertidos na circunstância, bom, não deviam
ter nada de grave, acho eu!?
Mas o sono que eu tinha fez-me saltar para o
imaginário da ficção em que os presos conseguiam as armas dos guardas e desatavam
aos tiros pelo hospital…. Vou mas é tomar um café e acordar do pesadelo!
À porta do hospital o cenário não é melhor, ambulâncias,
acidentados, enfim… lá tomei o café e voltei para a minha cadeirinha, que
chiava, ao lado da minha mãe que com os olhos sempre bem arregalados teimava em
não dormir.
Perto das 07h da manhã, hora a que eu era obrigada a
sair, fui procurar a enfermeira destinada à minha mãe para saber o que iam
fazer depois de eu sair? A que horas o médico a vinha ver? Etc… Encontrei-a com
um rapaz de cadeira de rodas com o braço engessado que dizia que queria ir
embora e ela paciente dizia que só depois do médico o ver é que tinha, ou não,
alta. Mas ele insistia e perguntava se não havia ali uma cervejinha!? Levantava
o braço que não estava partido e a gesticular dizia “ … uma cervejinha, eu
quero uma cervejinha…. Uma cervejinha é que agora ia bem…”
Lá vim embora ainda a tempo de ver o acordar da
cidade.
Agora só quero é dormir!
PS: a mãe
depois do TAC saiu ainda de manhã e está bem, apesar do nariz e queixo
esmurrados, dos olhos negros e joelhos doridos…. Mas caramba, com 92 anos e nada partido!
Mulher de fibra!
As melhoras para a tua mãe Becas. Sei bem o k retratas neste texto de dura realidade, tb foi a minha algumas vezes.
ResponderEliminarBeijinhos e tudo de bom ��
Obrigada
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