segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Uma noite no hospital…. Agora ia bem uma cervejinha!


Teve de ser!

Passar a noite no hospital com a minha mãe, mentalizada de que não ia dormir, porque ela não consegue dormir neste ambiente, pois ficou internada nas urgências para avaliação e observação de 24horas…fui munida de distracções não fazendo ideia que a própria distracção estava já lá dentro.

Estar numa sala ao lado da triagem não é fácil, havia ruídos estranhos que me gelavam a alma, me agoniavam, parecia um som de alguém possuído de sofrimento, um sofrimento que não tinha fim, mais tarde descobri que vinha de uma senhora, já idosa, que acalmou talvez com algum medicamento, ainda bem para ela e para mim que estava aterrorizada, só de pensar que alguém podia morrer mesmo ali ao meu lado!

Os minutos iam passando e pelo corredor passavam presos vigiados por guardas prisionais, idosos, idosos e mais idosos…. Eu só pensava, esta noite não vai ter fim… mas de vez em quando lá vinha uma distracção. Uma médica em conflito com enfermeiras que me pediu desculpa e “… não ligue ao que estou a dizer, mas fico mesmo revoltada e zangada quando me levam os doentes sem eu terminar a observação!!!!...”  what!?... Então!?

As enfermeiras as auxiliares as empregadas de limpeza conversavam e brincavam na postura normal de um dia de trabalho que para mim como já era de noite, supostamente seria para dormir, mas enfim… esta noite definitivamente não era para isso!

A primeira vez que fui com a minha mãe à casa de banho a mesma médica avisou-me que devia levar a minha carteira, porque ali uns tantos são doente, outros tantos roubam! “… Imagine que um dia destes encontrei um doente a tirar o fio de ouro de outro doente, e telemóveis!? É um ver se te avias, desaparecem todos!...” mais uma vez lhe sorri com cara de what!? Mas o que é isto!

De vez em quando lá espreitava pelas cortinas que alguém não fechava, a imagem de macas com entubados não eram nada agradável!

 Numa dessas espreitadelas apercebi-me da história que me marcou, me abalou e me entristeceu, um jovem em apatia total que tomou uma caixa, ou mais, de comprimidos, mais tarde, depois da lavagem ao estômago passou por mim numa maca, era bem parecido com um olhar profundo ou fundo ou sem olhar! O que lhe iria na alma, na cabeça, no corpo para ter vontade de desistir!? Estremeci à passagem, queria poder ter dito “força, coragem para viver, tudo se resolve”

Os minutos lá iam passando, nem ousava pensar em horas! Há seis meses atrás aconteceu o mesmo, a minha irmã é que lá passou a noite e de certeza que as sensações foram as mesmas… mamã por favor não caias outra vez!

Com o passar dos minutos, já pela madrugada o sono estava a tomar conta de mim.

Fez-se silêncio, menos dois senhores que apesar das chamadas de atenção teimavam em conversar e até parecia estarem divertidos na circunstância, bom, não deviam ter nada de grave, acho eu!?

Mas o sono que eu tinha fez-me saltar para o imaginário da ficção em que os presos conseguiam as armas dos guardas e desatavam aos tiros pelo hospital…. Vou mas é tomar um café e acordar do pesadelo!

À porta do hospital o cenário não é melhor, ambulâncias, acidentados, enfim… lá tomei o café e voltei para a minha cadeirinha, que chiava, ao lado da minha mãe que com os olhos sempre bem arregalados teimava em não dormir.

Perto das 07h da manhã, hora a que eu era obrigada a sair, fui procurar a enfermeira destinada à minha mãe para saber o que iam fazer depois de eu sair? A que horas o médico a vinha ver? Etc… Encontrei-a com um rapaz de cadeira de rodas com o braço engessado que dizia que queria ir embora e ela paciente dizia que só depois do médico o ver é que tinha, ou não, alta. Mas ele insistia e perguntava se não havia ali uma cervejinha!? Levantava o braço que não estava partido e a gesticular dizia “ … uma cervejinha, eu quero uma cervejinha…. Uma cervejinha é que agora ia bem…”

Lá vim embora ainda a tempo de ver o acordar da cidade.

Agora só quero é dormir!


 PS: a mãe depois do TAC saiu ainda de manhã e está bem, apesar do nariz e queixo esmurrados, dos olhos negros e joelhos doridos…. Mas caramba, com 92 anos e nada partido! 

Mulher de fibra!


2 comentários:

  1. As melhoras para a tua mãe Becas. Sei bem o k retratas neste texto de dura realidade, tb foi a minha algumas vezes.
    Beijinhos e tudo de bom ��

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