sábado, 25 de abril de 2015

Abril é o que dizem?


Eu tinha 15 anos.

“Hoje não há aulas! Houve uma revolução!!!”

O quê? revolução? O que é isso?

A partir daí foi um descobrir de emoções…

O meu irmão Rui chega lá a casa em euforia “Papá vamos ao Porto?” o meu pai com cara de poucos amigos, com o medo e as duvidas estampadas no rosto lá acedeu e eu “infiltrei-me” e lá fui também, encolhida na parte de traz do carro, sem perceber ainda bem o que se estava a passar mas a gostar de ver a alegria das pessoas e medo da multidão à volta dos carros…. Lembro que o meu pai não tirou aquela cara de “Meu Deus, o que vai acontecer agora?” e o Rui quase fora do carro aos gritos “LIBERDADE”

Claro que depois de perceber fui logo “comunista”, era fixe!... Tens dois, dá um!!! 
Ahahahaha grande utopia.

A política começou a ser conversa lá em casa, principalmente entre o Rui e o pai que não aceitou assim de ânimo leve a revolução, imagino que não deve ter sido fácil viver na incerteza, compreendida mais tarde, pois infelizmente estamos nós, agora, a vive-la.

Na escola todos os dias havia “pancadaria”, o Garcia de Orta versus D. Manuel II, policia, petardos, presos, gritos, tiros….. O Alfredo “o comunista” era o cristo, perseguido por todos pela ideologia politica mas o símbolo da escola, não havia ninguém que não gostasse dele.

Naqueles primeiros tempos a política foi uma ansiedade, um querer saber tudo, o que aconteceu? o porquê? e o nosso sentido de justiça a apurar, lembro que eu e a Mi lemos um livro escrito por um preso politico pela PIDE, o que ele passou as torturas horrendas, como é possível um ser humano fazer estas coisas a outros seres humanos? Ficamos mesmo indignadas e como no livro ele falava de onde morava, “meu Deus tão perto, vive em Gomes da Costa”, bem lá fomos nós Avenida abaixo na ânsia de ver o homem, ainda estivemos paradas à porta de casa dele, já me estou a rir do ridículo, da figurinha! 
Afinal o que queríamos nós ver? A cara de um verdadeiro revolucionário?

Apesar de não ser da mesma ideologia havia um senhor, um tal de Salgado Zenha que o meu pai gostava de ouvir, fazia-o rir! Chegamos mesmo, eu e o meu pai, a ir a comícios só pelo prazer, pelo sentido de humor, íamos de eléctrico e ficávamos ao fundo da Avenida sem grandes manifestos…. Só a ouvir!

Vivi aquela época com muita intensidade, gosto muito, ainda hoje, de todas as músicas de intervenção, choro e rio a ouvir FMI do José Mário Branco, sou fã do Sérgio Godinho e o melhor de sempre o eterno Zeca Afonso e tantos, tanto outros.

Adoro o sentido do dia “25 de Abril” mas há muito que deixei de acreditar que um dia esse dia possa existir!


Beijos

1 comentário:

  1. Nesse tempo já trabalhava , dava aulas em Gondomar e só me dei conta que algo estava a acontecer quando cheguei à entrada do Porto e vi militares a patrulharem a estrada. Tem graça, não me lembro nada desse teu episódio com o papá e o Rui mas gostava bem de ter participado nele também!!!

    tenho muita pena que a revolução não tenha cumprido o seu propósito mas, a vida mudou muito desde então! Pelo menos "ainda" podemos falar!!!

    25 de Abril sempre.

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