Eu tinha 15
anos.
“Hoje não há
aulas! Houve uma revolução!!!”
O quê?
revolução? O que é isso?
A partir daí
foi um descobrir de emoções…
O meu irmão
Rui chega lá a casa em euforia “Papá vamos ao Porto?” o meu pai com cara de
poucos amigos, com o medo e as duvidas estampadas no rosto lá acedeu e eu
“infiltrei-me” e lá fui também, encolhida na parte de traz do carro, sem
perceber ainda bem o que se estava a passar mas a gostar de ver a alegria das
pessoas e medo da multidão à volta dos carros…. Lembro que o meu pai não tirou
aquela cara de “Meu Deus, o que vai acontecer agora?” e o Rui quase fora do
carro aos gritos “LIBERDADE”
Claro que
depois de perceber fui logo “comunista”, era fixe!... Tens dois, dá um!!!
Ahahahaha grande utopia.
A política
começou a ser conversa lá em casa, principalmente entre o Rui e o pai que não
aceitou assim de ânimo leve a revolução, imagino que não deve ter sido fácil
viver na incerteza, compreendida mais tarde, pois infelizmente estamos nós,
agora, a vive-la.
Na escola
todos os dias havia “pancadaria”, o Garcia de Orta versus D. Manuel II, policia, petardos, presos, gritos, tiros….. O
Alfredo “o comunista” era o cristo, perseguido por todos pela ideologia
politica mas o símbolo da escola, não havia ninguém que não gostasse dele.
Naqueles
primeiros tempos a política foi uma ansiedade, um querer saber tudo, o que
aconteceu? o porquê? e o nosso sentido de justiça a apurar, lembro que eu e a
Mi lemos um livro escrito por um preso politico pela PIDE, o que ele passou as
torturas horrendas, como é possível um ser humano fazer estas coisas a outros
seres humanos? Ficamos mesmo indignadas e como no livro ele falava de onde
morava, “meu Deus tão perto, vive em Gomes da Costa”, bem lá fomos nós Avenida
abaixo na ânsia de ver o homem, ainda estivemos paradas à porta de casa dele, já
me estou a rir do ridículo, da figurinha!
Afinal o que queríamos nós ver? A
cara de um verdadeiro revolucionário?
Apesar de
não ser da mesma ideologia havia um senhor, um tal de Salgado Zenha que o meu
pai gostava de ouvir, fazia-o rir! Chegamos mesmo, eu e o meu pai, a ir a
comícios só pelo prazer, pelo sentido de humor, íamos de eléctrico e ficávamos
ao fundo da Avenida sem grandes manifestos…. Só a ouvir!
Vivi aquela
época com muita intensidade, gosto muito, ainda hoje, de todas as músicas de
intervenção, choro e rio a ouvir FMI do José Mário Branco, sou fã do Sérgio
Godinho e o melhor de sempre o eterno Zeca Afonso e tantos, tanto outros.
Adoro o
sentido do dia “25 de Abril” mas há muito que deixei de acreditar que um dia
esse dia possa existir!
Beijos
Nesse tempo já trabalhava , dava aulas em Gondomar e só me dei conta que algo estava a acontecer quando cheguei à entrada do Porto e vi militares a patrulharem a estrada. Tem graça, não me lembro nada desse teu episódio com o papá e o Rui mas gostava bem de ter participado nele também!!!
ResponderEliminartenho muita pena que a revolução não tenha cumprido o seu propósito mas, a vida mudou muito desde então! Pelo menos "ainda" podemos falar!!!
25 de Abril sempre.