sábado, 18 de abril de 2015

Os meus irmãos e eu na infância


Rui o brincalhão, meigo, curioso pelo fenómeno da vida …. A primeira vez que fui ao cinema foi com ele e com a Ana Maria, na altura ainda namorada, eu levei comigo um boneco que ao carregar  num botão, chorava ou ria. No autocarro encontrou um amigo e os dois abriram o boneco para ver como era o aparelho “electrónico” e no cinema fartou-se de o pôr, ora a rir, ora a chorar…. que vergonha! e ele super divertido!

Um matemático … “a matemática é como um poema” dizia ele muitas vezes!, um apaixonado por electrónica e completamente louco por carros, sempre a desafiar o perigo mas sensível para gostar de poesia, musica… clássica, pedras e fosseis.

Contava histórias fantásticas de Africa e divertia-se com as suas próprias partidas, algumas até nojentas só para nos irritar e ele ria, ria, ria, um durão, sem medos e sempre pronto para um desafio que quanto mais perigoso mais gozo dava!

A nossa diferença de idades ainda era alguma, talvez por isso não me lembre de muitas coisas que tenhamos passado juntos enquanto eu ainda era criança… mas para mim vai ser sempre o meu “maninho” mais velho.




Jorge, o oposto do irmão mais velho, o irmão que qualquer irmã quer ter para apresentar às amigas, charmoso, certinho e de poucas falas mas solidário e amigo, lembro que era ele que me levava à escola quando estávamos em casa dos avós… era giro, vínhamos muito cedo no eléctrico cheio de gente

Mais tarde descobri que eu e ele pensávamos da mesma maneira sobre ”dormir era uma perda de tempo!” é uma “coisita” de nada mas bolas, eu adolescente senti-me tão adulta porque tinha em comum um sentimento igual, era importante.

Quando em reuniões de amigos e família cantava fado, eu sentia um orgulho tão grande que só me apetecia gritar “é meu irmão, é meu irmão e canta tão bem”.

Tenho guardado os “aerogramas” que me escreveu quando estava em Moçambique na tropa, na altura achava graça receber aquelas cartas azuis, agora choro ao as ler e perceber a falta e a saudade que ele sentia da família, nunca foi, ou melhor, nunca demonstrou mimos e afectos mas sei que gosta e gosta muito.

Um curioso por histórias sobre lugares, pessoas, família e andar, andar, andar e conhecer …

Também com ele não tenho memórias de infância, olha Jorge se tivermos histórias juntos, conta-me, preciso de as saber.

Ainda temos tempo de dar muitos abraços e eu gostava muito.




Oswalda, para nós a Valdinha… que raio de nome lhe deram, mas tudo bem não vamos falar sobre isso, eu sei que ela gosta do nome! … a minha mana (ponto) a que tomou conta de mim sempre, a confidente, a cúmplice, a amiga, acho que a primeira vez que nos separamos foi quando foi de férias para o Algarve com a Tia Gina, o que eu chorei! Será que pensei que nunca mais a ia ver? Eu era muito pequenina...

Como eu odiava a escola primária, chorávamos as duas, eu porque não queria ficar e ela porque não me queria deixar, eu agarrava-me aqueles braços com tanta, tanta força… na altura nunca questionei, porque não me interessava nem idade para isso mas não deve ter sido fácil (nem justo) ser a irmã mais velha que tinha que ficar sempre a tomar conta dos irmãos mais novos.

Dormíamos juntas e ela contava-me histórias e anedotas em silêncio, eu explico, ela queria dormir e eu perguntava “então, não acabas de contar?” e a minha irmã soltava duas gargalhadas e dizia ”esta foi engraçada, não foi?” eu ria e “conta outra” até eu adormecer estávamos naquele silêncio entre anedotas e duas gargalhadas….

Houve um intervalo nas nossas vidas, porque as idades e os interesses eram diferentes mas um dos dias tristes da minha vida foi o dia em que casou e aquele (nosso) quarto ficou vazio, vazio, tão vazio ... mas passou e depois, mais tarde e já mais velha, acho que nos divertimos muito.

E é assim que eu a vejo, a gostar de liberdade, natureza e ar … a correr por vales de erva verde e fresca, a inventar histórias de encantar, uma sonhadora realista e no fim do sonho eternizar emoções nas fotografias e na pintura.




Vasco o poeta, o escritor, o cinéfilo, o irmão mais próximo, por isso andávamos sempre com nódoas nas pernas de tantas caneladas, mas era com quem brincava aos índios e cowboys, aos policias e ladrões, com carrinhos e as loucuras de bicicleta que era só uma e tinha que ser à vez.

Como somos os mais novos, fomos os mais companheiros e de com quem me lembro mais de passagens da infância, das partidas que fazíamos, dos livros do Tio Patinhas, da praia e do que nos divertíamos nas férias na Pala, nas vindimas o avô deixava que entrássemos no lagar para pisar as uvas, à noite ajudávamos a guardar as galinhas e tantas, tantas outras coisas… tínhamos era que dormir de tarde, às vezes fugíamos mas a avó apanhava-nos sempre, seca!

E os teatrinhos e bailados que fazíamos com os primos em casa dos avós para deleito dos mais velhos ao serão!

Já mais tarde, foi o meu cúmplice nas saídas à noite …. “Vou sair com o Vasco” ao fundo da rua, ele ia para um lado e eu para outro mas depois esperava por mim para entrarmos juntos em casa.

Um sonhador, um colector, um doce tempestivo...

Mas havia mais, muito mais ... mas destas eu lembro-me não foi por me contarem!

Beijos

 

1 comentário:

  1. Oh, isto não se faz, Bé, fizeste-me chorar!!!!!!



    Muito boa a caracterização, captaste muito bem a essência de cada um...O Rui e o Jorge muito cúmplices embora diferentes, tu e o Vasco também devido à idade tão próxima e eu no meio dos grandes e dos pequenos...! É muito bom ter uma irmã!!! Amo-te muito. Bjnhs

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