domingo, 7 de junho de 2015

Mary


Filha de uma professora primária e um comerciante do Porto.

Com dois irmão rapazes, Ivo o mais velho e Vasco o mais novo.

Mary com primas e amigas 

A Mary foi protegida por todos, principalmente pelo pai por quem sempre teve uma grande admiração e carinho, estudou na Escola Normal, na Ordem do Terço e mais tarde num colégio particular que pertencia a uma sobrinha do médico que a operou em Coimbra.



Um dia, o pai ofereceu-lhe um piano de cauda, a Tia Beatriz dava-lhe aulas de piano e de violino ao irmão Vasco, a primeira apresentação foi com a Sonata de Schubert nos anos do pai e no colégio também fez alguns recitais.

As brincadeiras eram as normais de uma criança, era muito Maria rapaz, talvez por brincar com os irmãos brincadeiras de rapazes, mais tarde foram as fugas do colégio, os passeios e o cinema com as amigas e o grupo que tinha entre Sá da Bandeira e Santa Catarina, durante uma semana ou mais (já não se recorda) a Mary não foi a escola e refugiava-se em casa da melhor amiga e cúmplice, a Virgínia, este incidente valeu-lhe um bom castigo, desde aí não faltou mais à escola.

Nas férias de verão a mãe alugava uma casa em Lavadores e como os outros miúdos com que brincava na praia não a percebiam a Mary dizia que era "fancesa" e continuava a brincadeira.

A Mary era muito bonita e tinha muitos pretendentes, contou-me com uma certa vaidade e até prazer que foi muito “namoradeira” e que teve alguns, uns demasiado possessivos e a queriam levar para fora, outros muito passageiros que ofereciam presentes de luxo, mas quando o namora acabava pediam tudo de volta. Contou-me também que nos passeios com o grupo pelo Porto, havia um rapaz que tinha um defeito numa perna e andava de muletas, com insistência queria sempre acompanha-la a casa mas com mentiras enrolava o rapaz de que tinha que ir aqui ou ali e o caminho para casa tornava-se maior com o rapaz sempre a segui-la, então subia a Rua dos Clérigos, descia pela Rua da Fábrica por escadas e escadinhas….assim o rapaz no “manca que manca” não a conseguia apanhar ficando para trás, aí podia seguir para casa em tranquilidade.

Mary numa festa
A  Mary tinha muitas amigas e ia a muitas festas, foi a “bailes” em palacetes, foi princesa, naquele tempo com aquelas roupas as mulheres eram umas verdadeiras princesas, eu vi em fotografias da época.

Chegou o dia do casamento da melhor amiga, a Gina, na festa conheceu um rapaz, por sinal bem parecido mas achou que era uma chato porque não a largou a festa toda, era o melhor amigo do noivo, o João.

Passado uns dias, a mãe da Mary estava à janela e comentou ”aquele rapaz está todos os dias encostado ao lampião, quem será, o que quererá?!” a Mary espreitou pela janela e suspirou um “ah!”, é o rapaz que conheceu no casamento da amiga…. e agora que fazer?

Não sei o que a Mary fez entretanto, mas sei que depois de muitas tentativas lá disse o sim, e começaram a namorar….. em plenos anos 40 os namoros ou eram acompanhados ou à janela, então o pai da Mary fez uma segunda porta depois da porta de entrada com uma janela de vidro que abria, para o namorado não apanhar frio ou chuva….e dar uns beijitos quem sabe! Quando o namorado levava uma garrafa de champanhe o irmão Ivo abria a segunda porta para a grande “tainada”…. Imagino!!! devia ser tudo em segredo já que os pais da Mary estavam quase 3 andares acima.

E lá namoraram não sei quanto tempo.

Ambos gostavam muito de dançar e iam a muitas festas, eram muito divertidos e gostavam de passear com os amigos João e Gina que estavam sempre presentes e ficaram assim enquanto a vida deixou.

Casamento dos pais
A Mary não me contou muito mais sobre este namoro, por não querer ou por já não se lembrar, não sei! Mas no dia em que fez 21 anos casou com o até então namorado, o Silvino.


As núpcias foram passadas na casa que os pais da Mary tinham no Douro, foram para lá de comboio, o que eu me ri quando me contou que aldeia em peso estava na estação à espera da “menina”, eles realmente estranharam tanta gente, mas mais tarde souberam que aquela gente toda estava à espera da “menina” vestida de noiva!

Foram felizes à maneira deles, com altos e baixos, alegres e tristes como todos os casais, até que os filhos começaram a chegar, tiveram cinco lindos filhos mas continuaram sempre a dançar e a passear até quando lhes foi possível, sempre em companhia dos amigos Gina e João.

Agora vou chorar!... já estou!...

Tia Gina

O João foi o primeiro a partir, muitos anos mais tarde a Gina, há uns anos o Silvino também partiu, a Mary agora tem 92 anos e contou-me (não consigo escrever porque as lágrimas caiem-me pelo rosto) algumas destas histórias, sei que de certeza tem  muitas, muitas mais… mas ficam para a memoria dela, afinal a nós não nos interessam, o que interessa é que a Mary é a nossa mãe, o Silvino o nosso pai e a Gina e o João os tios para sempre no meu coração.

    
                                              
Mary é o nome que sempre ouvi o nosso pai chamar à nossa mãe. 

Mamã... a Mary


Beijos!



2 comentários:

  1. "A minha Mary" ...é verdade era assim que o nosso pai chamava à Mariazinha que os pais criaram como uma princesa, mesmo!!! Aqui, também encontras ligação ao teu artigo "Amigas para sempre" pois a tia Gina e o Senhor João Pacheco foram toda a vida os melhores amigos...em todas as horas ,alegres e tristes!!!
    Muitas historias haveria para contar mas, a verdade é que esta Mary, a nossa mãe, foi e é uma mulher forte!!!

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  2. Quem ficou a chorar fui eu!!! A nossa Mary...

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