Em Agosto
íamos para a praia, os pais alugavam barraca na Foz, na praia Homem do Leme.
Começava o
mês das aventuras!
A barraca
era arranjada como se fosse a nossa casa, com liteiro como tapete, cadeiras e uma
cortina para nos podermos despir e vestir à vontade sem os olhares curiosos dos
que passavam. A mãe fazia um saco onde os pertences e
os brinquedos lá ficavam o mês todo à responsabilidade do banheiro, havia
visitas de tias e amigas da mamã que passavam a tarde a fazer croché e a
conversar, uma verdadeira casa de férias na praia e as tardes pareciam que não
tinham fim.
Em geral os
vizinhos de praia eram os mesmos, anos após anos…. Mas não me lembro de nenhum.
“Mamã posso molhar os pés?” “Mamã já posso
tomar banho?” a digestão era cumprida à risca e nem o dedo do pé podíamos
molhar se ainda não estivesse feita.... podíamos morrer!
Eu só
gostava de água, mesmo gelada como habitualmente era, mas não de ondas, então a mamã
tinha que me levar à praia do Molhe ao pé do paredão onde o mar parecia um lago
e eu podia imaginar que nadava (coisa que não sabia!) para outros mundos
rodeada de golfinhos e sereias….. só de lá saía depois de muitos mergulhos e
“Bebé sai da agua, já estás roxa” e lá vinha eu enrolada numa toalha a tiritar
de frio, depois de secos, arranjados e penteados, sentávamo-nos na toalha a
lanchar… o melhor lanche do mundo… fosse o que fosse era assim que me sabia.
O papá, ás
vezes, ao fim do dia ia ter connosco e lá vinha ele, de fato e gravata pela
praia fora…. Engraçado só muito mais tarde o meu pai pôs calças de sarja (nunca
de ganga) e polo, porque nesta altura mesmo ao fim de semana andava de fato,
até para ir á praia!... outros tempos!
O “OLÁ fresquinho!”
andava pela praia fora a vender gelados e contam-me que o Vasco muito admirado perguntava se o
senhor o conhecia porque percebia “Olá Vasquinho!”.
Tínhamos
sempre direito a um gelado de gelo de laranja ou ananás com brinde, saia sempre
um boneco dos desenhos animados da altura, tínhamos imensos e fazíamos troca dos repetidos, ou ao fim dia uma
guloseima, eu queria sempre o palito branco que sabia a mentol...huum tão bom, até parece que senti o sabor.
Jogar ao
prego, à bola e corridas de caricas eram as nossas brincadeiras, ou então
imaginar que a areia era o deserto, os rochedos castelos e as algas e pedras
tesouros e lá íamos nós com a toalha amarrada ao pescoço a esvoaçar com o vento
e a inventar aventuras de reis, rainhas ou pistoleiros….era o melhor mês de
brincadeira farta e livre.
Quando
terminava o mês com tristeza despedíamo-nos dos amigos com um “até para o ano”
com a certeza de que tinha sido um mês de férias cheio de aventuras e alegrias
que para o ano se iria repetir.
Com o passar
dos anos a magia acabou e já sem banhos no oceano, porque a água era gelada, passou
a ser com a companhia de um livro ou mesmo a dormir esticada ao sol toda
besuntada de cremes e mais cremes com um único objectivo “tenho de ficar
morena, tenho de ficar morena” e então lá íamos, eu e a Ana, sempre na pior
hora até apanhar escaldões que à noite não deixavam dormir de dores…na idade da parvoíce éramos completamente inconscientes e doidas!
Hoje, não
gosto muito de estar horas na praia mas adoro estar em frente ao imenso mar a
olhar e a ouvir aquela massa de ondas desenrolar a beijar a areia…
Beijos!
Nesta bela descrição existe, para mim, um pequenino detalhe é que eu fiz praia durante anos e anos na Praia Homem do Leme e às tantas também fui um desses pistoleiros ou na melhor das hipóteses um pajem, Hum, hum. As batatas fritas eram também muito boas.
ResponderEliminarEra mesmo assim, Bé, as férias na praia tinham um sabor...maravilhoso!!!! "A batata frita à ingleeeesa, olha a batatiiiinha" ainda estou a ouvir !!! E as brincadeiras ...as mesmas, só que eu gostava de brincar nos rochedos que se transformavam em castelos de princesas e príncipes...ainda consigo ver!!!!!!!!
ResponderEliminarUma delícia estas recordações, fico sempre com as lágrimas nos olhos!!!!
Bé, estás um pouco equivocada. O papá alugava barraca na Praia do Molhe, que fica mesmo contígua à do Homem do Leme. O banheiro chamava-se António Valente e as barracas eram as de cor amarela. Uma das presenças assíduas, daquelas que passava o tempo todo a fazer croché, era a nossa tia-avó, a Tia Cármen Lynch. O aluguer era só aos dias de semana, pois ao sábado e domingo íamos para Leça da Palmeira, para a Praia dos Beijinhos, com os tios Pacheco (João e Gina), as filhas destes, e outros amigos. O banheiro desta praia era o Sr. Júlio. Enquanto à semana frequentávamos a praia só após o almoço, ao fim-de-semana, levávamos almoço (os tachos de arroz embrulhados em papel de jornal e cobertores, rissóis, croquetes, panados, batatas fritas, sobremesas, e bebidas). Antes de tomar banho, andávamos pela areia a apanhar beijinhos (conchas brancas e rosadas que pareciam lábios a beijar).
ResponderEliminarDisto não me lembro, tu devias ter dois anos e eu quase quatro, mas a primeira barraca que a mamã teve foi na Praia dos Beijinhos, que lhe foi doada pela D. Edine, uma amiga da D. Virgínia Pacheco, a tia Gina, e também sei que ambos tínhamos medo da água do mar (eram só berreiros). Do que me lembro mesmo, era dos tempos na Praia do Molhe, e de alguns amigos. Lembras-te duma ocasião em que eu e um amiguinho descobrimos uma joia de ouro, que foi entregue à polícia e, por não ter sido reclamada, nos foi entregue e posteriormente dividida pelos dois sob a forma de voltas em ouro.
ResponderEliminarTambém só me lembro de ir para a praia dos Beijinhos ao fim de semana.
ResponderEliminarLembro é que já mais velhos, íamos os dois com o papá, para a piscina de Leça e ao Sábado de manhã para a praia na Foz, o papá gostava de praia e de nadar.
Agora que falas na D.Edine, lembro que eu gostava muito de uma das filhas dela, a Paz, contam-me que em casa eu chorava que queria a pazinha e a empregada trazia a pá da praia e eu gritava “não é essa, não é essa”.
Que máximo essa da jóia, lembro lembro…. afinal houve aventuras reais com direito a recompensa e tudo…