Filha de uma
professora primária e um comerciante do Porto.
Com dois
irmão rapazes, Ivo o mais velho e Vasco o mais novo.
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Mary com primas e amigas |
A Mary foi
protegida por todos, principalmente pelo pai por quem sempre teve uma grande
admiração e carinho, estudou na Escola Normal, na Ordem do Terço e mais tarde
num colégio particular que pertencia a uma sobrinha do médico que a operou em
Coimbra.
Um dia, o
pai ofereceu-lhe um piano de cauda, a Tia Beatriz dava-lhe aulas de piano e de
violino ao irmão Vasco, a primeira apresentação foi com a Sonata de Schubert
nos anos do pai e no colégio também fez alguns recitais.
As
brincadeiras eram as normais de uma criança, era muito Maria rapaz, talvez por
brincar com os irmãos brincadeiras de rapazes, mais tarde foram as fugas do colégio, os passeios
e o cinema com as amigas e o grupo que tinha entre Sá da Bandeira e Santa
Catarina, durante uma semana ou mais (já não se recorda) a Mary não foi a
escola e refugiava-se em casa da melhor amiga e cúmplice, a Virgínia, este
incidente valeu-lhe um bom castigo, desde aí não faltou mais à escola.
Nas férias de verão a mãe alugava uma casa em Lavadores e como os outros miúdos com que brincava na praia não a percebiam a Mary dizia que era "fancesa" e continuava a brincadeira.
A Mary era
muito bonita e tinha muitos pretendentes, contou-me com uma certa vaidade e até
prazer que foi muito “namoradeira” e que teve alguns, uns demasiado possessivos
e a queriam levar para fora, outros muito passageiros que ofereciam presentes
de luxo, mas quando o namora acabava pediam tudo de volta. Contou-me também que
nos passeios com o grupo pelo Porto, havia um rapaz que tinha um defeito numa perna
e andava de muletas, com insistência queria sempre acompanha-la a casa mas com
mentiras enrolava o rapaz de que tinha que ir aqui ou ali e o caminho para casa
tornava-se maior com o rapaz sempre a segui-la, então subia a Rua dos Clérigos,
descia pela Rua da Fábrica por escadas e escadinhas….assim o rapaz no “manca
que manca” não a conseguia apanhar ficando para trás, aí podia seguir para casa em tranquilidade.
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Mary numa festa |
A Mary tinha muitas amigas e ia a muitas festas, foi a “bailes” em palacetes, foi princesa, naquele tempo com aquelas roupas as mulheres eram umas verdadeiras princesas, eu vi em fotografias da época.
Chegou o dia
do casamento da melhor amiga, a Gina, na festa conheceu um rapaz, por sinal bem
parecido mas achou que era uma chato porque não a largou a festa toda, era o
melhor amigo do noivo, o João.
Passado uns
dias, a mãe da Mary estava à janela e comentou ”aquele rapaz está todos os dias
encostado ao lampião, quem será, o que quererá?!” a Mary espreitou pela janela
e suspirou um “ah!”, é o rapaz que conheceu no casamento da amiga…. e agora que
fazer?
Não sei o
que a Mary fez entretanto, mas sei que depois de muitas tentativas lá disse o
sim, e começaram a namorar….. em plenos anos 40 os namoros ou eram acompanhados
ou à janela, então o pai da Mary fez uma segunda porta depois da porta de
entrada com uma janela de vidro que abria, para o namorado não apanhar frio ou
chuva….e dar uns beijitos quem sabe! Quando o namorado levava uma garrafa de
champanhe o irmão Ivo abria a segunda porta para a grande “tainada”….
Imagino!!! devia ser tudo em segredo já que os pais da Mary estavam quase 3
andares acima.
E lá
namoraram não sei quanto tempo.
Ambos
gostavam muito de dançar e iam a muitas festas, eram muito divertidos e gostavam
de passear com os amigos João e Gina que estavam sempre presentes e ficaram
assim enquanto a vida deixou.
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Casamento dos pais |
A Mary não
me contou muito mais sobre este namoro, por não querer ou por já não se
lembrar, não sei! Mas no dia em que fez 21 anos casou com o até então namorado,
o Silvino.
As núpcias foram
passadas na casa que os pais da Mary tinham no Douro, foram para lá de comboio,
o que eu me ri quando me contou que aldeia em peso estava na estação à espera
da “menina”, eles realmente estranharam tanta gente, mas mais tarde souberam
que aquela gente toda estava à espera da “menina” vestida de noiva!
Foram
felizes à maneira deles, com altos e baixos, alegres e tristes como todos os
casais, até que os filhos começaram a chegar, tiveram cinco lindos filhos mas
continuaram sempre a dançar e a passear até quando lhes foi possível, sempre em
companhia dos amigos Gina e João.
Agora vou
chorar!... já estou!...
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Tia Gina |
O João foi o
primeiro a partir, muitos anos mais tarde a Gina, há uns anos o Silvino também partiu,
a Mary agora tem 92 anos e contou-me (não consigo escrever porque as lágrimas
caiem-me pelo rosto) algumas destas histórias, sei que de certeza tem muitas, muitas mais… mas ficam para a memoria
dela, afinal a nós não nos interessam, o que interessa é que a Mary é a nossa
mãe, o Silvino o nosso pai e a Gina e o João os tios para sempre no meu
coração.
Mary é o
nome que sempre ouvi o nosso pai chamar à nossa mãe.
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Mamã... a Mary |
Beijos!