20/06/2023
Ser poeta
Ser! Ou querer ser!
Poeta
Ser triste e imaginar o belo
é a metade em falta para a poesia.
Não deixar que o cinzento
abandone o olhar, nem que as lágrimas deixem de correr o rosto.
Brincar com as palavras amargas
e não deixar que a alegria trespasse a alma
Atirar-se para um campo florido
e cheirar o prado em pranto, respirar o vento da colina com lágrimas de rios traiçoeiros,
sentir a brisa pelo corpo e a morte até ao anoitecer
Ser lamechas, ser piegas, ser
profundo
Só achar graça com um mero
encolher de ombros ao comportamento da humanidade
Essa velha e mentirosa
humanidade
Não ter piedade mas ser
piedoso
Querer e não querer
Chorar e rir
Caminhar ou ficar parado
junto do precipício!?
(em
crescendo)
Não deixar o sol entrar pelas
frestas da janela e apagar todas as memórias que magoam, ou deixar que elas
mesmo façam sofrer ainda mais…
Calcar o sofrimento em
degraus e escadas infinitas…
Seguir correndo até ao céu
azul cheio de nuvens e gritar…gritar…. gritar como se um fogo de artificio
ecoasse pelo espaço e terminasse em explosão com “O Fortuna” de Carl
Orff
Melancolia nas preces, meu
Deus, querer tudo e não querer nada
(baixando
ritmo)
É isto!
Ser poeta é ser triste
Dar o passo em frente e
mergulhar no abismo incógnito
Gostar de rostos esquecidos
De histórias de verdades, de papeis
rasgado, abandonados e podres pelos beirais
Nauseabundos pelas sarjetas
húmidas e imundas com palavras escorridas de lixo
Como se o sofrimento fosse o
único sentimento de uma noiva imaculada e pura
Enraivecida, magoada,
nostálgica
Escravizada e esvaziada pelo
tempo
Que usa a mente e o
pensamento por diversão num mero jogo de labirintos e encruzilhadas
Um destino vazio de sorriso
velado à espera de um esquecimento …
Para ser feliz.
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