domingo, 24 de setembro de 2023

Ser poeta (20/06/2023)

 

20/06/2023

Ser poeta

Ser! Ou querer ser!

Poeta

Ser triste e imaginar o belo é a metade em falta para a poesia.

Não deixar que o cinzento abandone o olhar, nem que as lágrimas deixem de correr o rosto.

Brincar com as palavras amargas e não deixar que a alegria trespasse a alma

Atirar-se para um campo florido e cheirar o prado em pranto, respirar o vento da colina com lágrimas de rios traiçoeiros, sentir a brisa pelo corpo e a morte até ao anoitecer

Ser lamechas, ser piegas, ser profundo

Só achar graça com um mero encolher de ombros ao comportamento da humanidade

Essa velha e mentirosa humanidade

Não ter piedade mas ser piedoso

Querer e não querer

Chorar e rir

Caminhar ou ficar parado junto do precipício!?

(em crescendo)

Não deixar o sol entrar pelas frestas da janela e apagar todas as memórias que magoam, ou deixar que elas mesmo façam sofrer ainda mais…

Calcar o sofrimento em degraus e escadas infinitas…

Seguir correndo até ao céu azul cheio de nuvens e gritar…gritar…. gritar como se um fogo de artificio ecoasse pelo espaço e terminasse em explosão com “O Fortuna” de Carl Orff

Melancolia nas preces, meu Deus, querer tudo e não querer nada

(baixando ritmo)

É isto!

Ser poeta é ser triste

Dar o passo em frente e mergulhar no abismo incógnito

Gostar de rostos esquecidos

De histórias de verdades, de papeis rasgado, abandonados e podres pelos beirais

Nauseabundos pelas sarjetas húmidas e imundas com palavras escorridas de lixo

Como se o sofrimento fosse o único sentimento de uma noiva imaculada e pura

Enraivecida, magoada, nostálgica

Escravizada e esvaziada pelo tempo

Que usa a mente e o pensamento por diversão num mero jogo de labirintos e encruzilhadas

Um destino vazio de sorriso velado à espera de um esquecimento …

Para ser feliz.

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