Resumo de um Natal!


Eternizar memórias antigas e actuais, pôr em palavras ou em imagens histórias. Dar vida à vida!
Quando chegávamos da consoada em casa da avó, o meu pai abria a porta e ..."catrapum..." ouvia-se um barulho estranho, de algo a cair!....eu era pequenina e aquele som era assustador e misterioso já que os meus pais, que sempre sustentaram a magia da época, diziam que era o menino Jesus a sair pela chaminé depois de deixar os presentes no sapatinho de cada um de nós.
O céu corria em azul
O vento soprava para norte
A Páscoa na aldeia
“Ouves o
sino?... que horas são? Ainda é tão cedo!
O compasso
já está perto!"
O sino
tocava tlim tlom… tlim tlom… a avisar que o Senhor estava a chegar à nossa casa!
"Meninos
venham… despachem-se….”
Já os vejo
à entrada onde o chão devidamente decorada com flores para anunciar que sim… o Senhor pode
entrar na nossa casa….
Nós, esperávamos ao cimo da escadaria pela chegada, eles vinham apressados e suados, e lá subiam de capas esvoaçantes vermelhas, um com o sino, outro com a água benta e ainda outro com a pasta para guardar as ofertas e por fim a cruz.
Ao entrar
na sala diziam umas palavras abençoadas, molhavam-nos com a água benta e o meu
pai a quem era entregue a cruz nos dava a beijar os pés do Senhor (era a parte
que eu menos gostava, peço desculpa, mas muitas vezes fiz de conta que beijei)
Na mesa da
sala estava um banquete de amêndoas, bolos, bolachas e vinhos para os receber…
uma almofada era colocada no aparador para o Senhor descansar enquanto os mensageiros
degustavam …
Ao descer
a escadaria as capas esvoaçantes ficavam para trás como que fossem voar (mais
tarde, já com a minha filha eu dizia que eram os “super-homens”) até à próxima
casa…
A seguir o
cabrito que já estava temperado de véspera pela nossa mãe era levado a casa do
Sr Adão para assar no forno do pão, assim como o arroz. Ainda hoje sinto aquele
sabor, esse sim, abençoado… era tão bom!!!!
Lembro-me
que eram três dias fantásticos, matávamos saudades dos nossos amigos das férias,
eram dias de liberdade com cheiro a pinheiro e rio Douro….
Quando estava calor até pareciam as férias de verão, era tanta a brincadeira!
No sábado
de Páscoa o nosso irmão Rui ia lá sempre passar o dia…acho que nunca falhou um,
desde pequena que me lembro da Páscoa na aldeia, talvez por isso seja uma festa
que na cidade não tem magia. Mais tarde, já casada e com filha, continuamos a
ir com os meus pais e o Vasco
A Inês não
gostava nada do fogo, fugia a sete pés e subia por mim acima sempre que o ouvia!
Três dias
de pura contemplação!
Três dias
de reflexão!
Três dias
de repor energias!
Três dias
de passeios… houve uma Páscoa que nevou e fomos com os pais à serra de
Montemuro, saímos para brincar na neve com a Inês, quando olho para trás estava
o meu pai a enterrar os pés na neve todo contente, como uma criança, porque nunca o tinha feito ou
sentido o prazer da neve, foi uma risota… parecíamos todos umas crianças a atirar bolas de neve,
o Fausto para delicia da Inês pôs uma bom bocado de neve no carro que ao descer
a montanha ia derretendo…
Tantas
histórias… tantos cheiros… tantas saudades…
Era assim
a Páscoa na “minha aldeia”
Parabéns
mana e espera por mim!
Vou ter
contigo e vamos dar uma volta.
Pode ser
aí junto ao mar.
Primeiro
navegamos na imensa praia de vento onde as recordações da areia nos leva ao
jogo do prego, aos primeiros amores, à toalha estendida, à descoberta pelos
rochedos de histórias imaginárias de encantar! (tu adoravas…. Eu odiava).
Depois caminhamos
pelas ruas da cidade…
Vemos
montras, dizemos disparates sem fim, criticamos tudo, rimos até não poder mais,
dizemos um adeus apertadinho já com saudades, sempre a olhar para trás até uma
de nós entrar no elétrico a achar que foi um dia “bestial” …Porque estivemos
juntas!...
Estás a
ver mana (aqui devia estar escrito um palavrão), este ano nada disto é possível!
Não nos
podemos beijar, abraçar …
Nem
imaginas a quantidade de disparates que já escrevi…. E apaguei! Não ficava bem,
neste teu dia dizer coisas…. Sim coisas, coisas sem sentido… só para rir!
Como eu
gostava de hoje te fazer rir, rir, rir muito…. Mas aí podias “descolar” e era
uma chatice! Olha que os tubinhos de cola estão pela hora da morte….
Sabes mana, neste teu aniversário, neste ano de rejuvenescimento e esperança queria dar-te um presente (juro que não é mais um passe-partout) queria dar-te um presente memorável e pensei, pensei e descobri que só te posso dar o meu amor, a minha amizade, as minhas palavras, os meus beijos e abraços (para quando for possível) e nunca, mas nunca deixar de te amar.
Olha a lagrimita!!!