sábado, 14 de março de 2020

Nada aqui me impede de nada!



Ao sonhar acordei!

Senti aquele aroma do rio da montanha e das flores a entrar pelo nariz!...

Uma espreguiçadela longa e um bocejo invadem-me e fazem-me sentir em paz.

Tudo aqui sabe diferente, sem pressas e sem horas deliciei-me com um pequeno almoço único e saboroso… a doce e sumarenta laranja, o pão a saber a forno, o cheiro perfumado das flores do campo…


Respirei fundo e saí pela estrada da infância e adolescência, apanhei um pinhão, parti com uma pedra e o sabor, meus Deus, o sabor.... forte, verdadeiro.... volto a respirar fundo e continuo a caminhar estrada fora, onde cada passo conta uma história, uma gargalhada, sempre com um “bom dia” a cada passagem por um aldeão apressado para fazer a rega matinal ou colher os repolhos para o almoço… e lá vem mais um “bom dia” ao padeiro, à peixeira ao homem que lê o jornal sentada numa pedra à sombrinha de uma laranjeira.
Os acenos e os bons dias acompanham-me até beira rio.
Molhei os pés no rio e corri atrás de uma libelinha que teimosamente fugia de mim... chapinho na água e corro atrás de um peixinho que vai crescendo em águas cristalinas e frescas… o Bestança é assim! O mais puro, o mais saudável.

Pumba, catrapum caí... com uma valente gargalhada afugentei a dor da queda porque me lembrei de quantas quedas nestas pedras seculares eu dei! Tantas… onde o mergulho era até quase à noitinha

Não existe mais nada.... só isto! Eu o céu o rio e a montanha!

Se eu parar no meio da estrada o vento bate-me na face, fecho os olhos, abro os braços e consigo abraçar as nuvens e ficar no colo das estrelas douradas.

Consigo beijar o cimo da montanha e percorrer o rio com longos passos quase que em correria.

E grito: Quem chega primeiro à ponte, ou à barragem?

Respondo: Sou eu… ou o meu eu que se demora no deleito da brisa no cais a ver os barcos em correria agreste quase que a perturbar o silêncio.

Parem, parem.... não vêm que a montanha está a dormir e as nuvens a descansar!!!!

Não vêm que o rio desliza em pequenas ondas quase que a medo para não acordar o sol que se vai deitar e aconchegar na montanha.

Ah... eu fico aqui.... não quero nem voltar… nem acordar.

Nada aqui me impede de chegar à felicidade e ao gozo de viver.

Nada aqui me impede de colhêr, de semear, de descalçar e chafurdar na lama.

Nada aqui me impede de gritar o som do silêncio.

Nada aqui me impede de voltar a outros tempos, a outras “gentes” mais puras, mais verdadeiras!

Nada aqui me impede de nada!

Nada aqui me impede!

Nada!

Mas tudo fica comigo para sempre!





Sem comentários:

Enviar um comentário