Senti aquele aroma do rio da montanha e das flores a entrar
pelo nariz!...
Uma espreguiçadela longa e um bocejo invadem-me e fazem-me
sentir em paz.
Tudo aqui sabe diferente, sem pressas e sem horas
deliciei-me com um pequeno almoço único e saboroso… a doce e sumarenta laranja,
o pão a saber a forno, o cheiro perfumado das flores do campo…
Respirei fundo e saí pela estrada da infância e
adolescência, apanhei um pinhão, parti com uma pedra e o sabor, meus Deus, o
sabor.... forte, verdadeiro.... volto a respirar fundo e continuo a caminhar
estrada fora, onde cada passo conta uma história, uma gargalhada, sempre com um
“bom dia” a cada passagem por um aldeão apressado para fazer a rega matinal ou
colher os repolhos para o almoço… e lá vem mais um “bom dia” ao padeiro, à
peixeira ao homem que lê o jornal sentada numa pedra à sombrinha de uma
laranjeira.
Os acenos e os bons dias acompanham-me até beira rio.
Molhei os pés no rio e corri atrás de uma libelinha que teimosamente
fugia de mim... chapinho na água e corro atrás de um peixinho que vai crescendo
em águas cristalinas e frescas… o Bestança é assim! O mais puro, o mais
saudável.
Pumba, catrapum caí... com uma valente gargalhada afugentei
a dor da queda porque me lembrei de quantas quedas nestas pedras seculares eu
dei! Tantas… onde o mergulho era até quase à noitinha
Não existe mais nada.... só isto! Eu o céu o rio e a
montanha!
Se eu parar no meio da estrada o vento bate-me na face, fecho
os olhos, abro os braços e consigo abraçar as nuvens e ficar no colo das
estrelas douradas.
Consigo beijar o cimo da montanha e percorrer o rio com
longos passos quase que em correria.
E grito: Quem chega primeiro à ponte, ou à barragem?
Respondo: Sou eu… ou o meu eu que se demora no deleito da
brisa no cais a ver os barcos em correria agreste quase que a perturbar o
silêncio.
Parem, parem.... não vêm que a montanha está a dormir e as
nuvens a descansar!!!!
Não vêm que o rio desliza em pequenas ondas quase que a medo
para não acordar o sol que se vai deitar e aconchegar na montanha.
Ah... eu fico aqui.... não quero nem voltar… nem acordar.
Nada aqui me impede de chegar à felicidade e ao gozo de
viver.
Nada aqui me impede de colhêr, de semear, de descalçar e
chafurdar na lama.
Nada aqui me impede de gritar o som do silêncio.
Nada aqui me impede de voltar a outros tempos, a outras
“gentes” mais puras, mais verdadeiras!
Nada aqui me impede de nada!
Nada aqui me impede!
Nada!
Mas tudo fica comigo para sempre!
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