sábado, 28 de julho de 2018

"A senhora"





Hoje é o dia que nunca vou esquecer!

Queria mas é impossível!... a dor é demasiado grande!

Acho que foi a primeira vez que falou comigo como se eu fosse uma estranha!

“…Foi a senhora que se deitou ao pé de mim?
A senhora percebe-me? É que eu tenho um defeito na boca, só os meus me percebem!?
Onde está a minha filha, a senhora viu-a? … é aqui que o meu filho me vem buscar?”

Geri esta situação o melhor que consegui e desatei a correr pela casa a chorar baixinho “a mamã não sabe quem eu sou!...”

A palavra “senhora” apunhalou o meu peito, esfaqueou o meu cérebro e pendurou-me no ar, sem pés, sem chão, vazia e com um medo maior que eu…

Só queria fugir e ao mesmo tempo aninhar-me no seu colo, estou aqui mamã, estou aqui...

Depois passou! 

Reconheceu-me como a filha Isabel e ficou aliviada de estar comigo, apesar de nunca saber onde está, em casa de quem “… olha, aquele armário é igual ao teu”, a perguntar sempre pelo Vasco, quando chega, quando telefona, quando vai para a casa...

Todos os esquecimentos e confusões são muito tristes, as vezes até cómicos, mas não me reconhecer foi a primeira vez (talvez não vá ser a ultima) e apanhou-me desprevenida…

Eu sei que vou ter que me resignar a que vai acontecer mais vezes… só não quero que sofra! Que sinta medo ou perdida…

Tenho tanto medo!...Isto nunca devia acontecer, nunca, nunca, nunca, nunca, nun…………caaaaaaa……

Estou triste!



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